domingo, 26 de junho de 2022

Gozo Seco

Orgasmo seco.
Como o baque de alguma droga.
Sem amor, sem calor, sem sentido.
Nem pequenos prazeres carnais,
Nem um roçar de uma mão na genitália,
Nem um ato que, teoricamente, me faria sentir vivo,
Nem isso tem mais sentido.

A dor, vem junto, de qualquer forma;
Ao buscar experiências mentalmente, novamente, momentos de prazer com alguém,
Lembro da perda.
Do final, e não do momento.
Deslizo pela garganta do ressentimento.
Quente.
Quase queimando.

Poderia só ter dormido.
Poderia só estar dormindo agora.
Mas a necessidade de sofrer é gritante,
E grita, pela mesma garganta de ressentimento,
Mantendo um círculo vicioso,
Que muitos chamam de refluxo.

O "dia" só começou,
E a dor também.

-M. Cintra
07/01/2020
00h07

sábado, 25 de junho de 2022

Olhos Famintos

Meus olhos estão famintos.
Comeriam uma montanha inteira, se fosse bela.
Se para mim, fizesse sentido.
Eles sempre estiveram famintos desde a primeira vez que se abriram fora do utero da minha mãe.
Mas antes, sua fome era saciada facilmente, com carinho, novas experiências e perspectivas de futuro; ou fé, se assim preferir chamar.

Hoje, estes mesmos olhos estão acordados.
Ainda acordados.
E todas as pequenas coisas que saciavam sua fome,
Já não saciam mais.
Ja não fazem mais sentido.

Busquei os extremos mais altos e baixos.
De automutilação a cocaína.
De abuso de remédios a excesso de trabalho.
De sangue pingando na pia a lágrimas escorrendo pelo rosto.
Da total paralisia a intensa movimentação.

Preciso encontra alimento para os meus olhos.
Saciar essa fome e enxergar novamente.
É difícil matar essa fome dos olhos, quando não se consegue enxergar o alimento.
Hoje eles estão famintos e cegos.

-M. Cintra
06/01/2020

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Terapia I

Mais uma ida a terapia.
Tudo exposto alí, em uma sessão.
Saio de lá e, no mesmo quarteirão,
Volto para minha utopia.

Cuspo na pia, olho meu reflexo,
Abomino o que eu vejo e planejo a morte.
Mas os planos fracassam, não tenho sorte.
Continuo aqui, mas desconexo.

Minha veia lateja,
Mas o que me para não é o medo.
O que me para é ir tão cedo,
Sem tomar nem uma cerveja...

Por hora, me sobram cartelas vazias.
Depakote, Gardenal, Pinazam, Rivotril...
Todas mostrando um futuro senil,
E agora, um presente sem vidas.

Inerte.
Espírito, mente e corpo adormecidos.
Submerso.
Buscando rumo em todos os sentidos.

Em todas as direções,
Amores,
Dores,
E todas as decepções.